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quinta-feira, setembro 04, 2003

Já reparou que... 

Há muitos, muitos anos, era o Homem feliz e desnudado, quando se pôr a pensar.
Mas pensou tanto que pensou demais, pensou nas causas e nas consequências, pensou no que pensava, pensou e pensou, pensou no que os outros pensavam que ele pensava, até que pensou e descobriu o pudor. A vergonha do que os outros poderiam pensar dele. Daí, pensou concomitantemente que uma primeira impressão só se tem uma vez e que uma imagem vale mil palavras (apesar deste último pensamento só ter sido escrito bastante anos mais tarde, por um oriental de nome Confúcio) e inferiu que o melhor era passar a andar vestido.
O Homem deixou então de andar tão desnudado e consequentemente tão feliz (e livre).
Anos mais tarde, porque a troca directa não era mais eficiente, pensou, pensou e inventou o dinheiro. A partir de então, o Homem passou a viajar sempre com a carteira no bolso, o que lhe possibilitava pagar a viagem, a estadia, a refeição, a muda de roupa e ainda, se lhe restasse alguns trocos, trazer algum para casa. Poderia posteriormente aplicar estas mais-valias sabiamente em títulos, benfeitorias ou simplesmente guardá-lo debaixo do colchão.
Tanto dinheiro guardado nas mãos de um só Homem é um íman para a cobiça. Os ladrões começaram a portar-se como abutres à volta da sua casa, mais precisamente à volta do seu colchão. Ora uma casa assim, precisa de uma boa fechadura, onde apenas uma chave possa entrar: a que é carregada para todo o lado pelo seu dono.
Agora, para além de menos feliz e menos desnudado, o Homem tornava-se mais inseguro, receoso não dos restantes predadores da Natureza, mas dos membros da própria espécie.
A última evolução tecnológica que apresento nesta breve resenha histórica é o telemóvel. Essa maravilha do progresso. Se ninguém quer falar com uma casa, mas sim com uma pessoa, é óbvio que o telemóvel rapidamente substituiu o telefone fixo. O Homem pode estar contactável em todo o local em que se encontre. Passámos a fazer-nos ouvir onde quer que estejamos e independentemente de onde a outra pessoa esteja.

Certamente ainda não desvendaram a razão de ser deste texto, o que é natural, não se preocupem: pois, de facto, existe uma razão (!) e por outro lado, se o Homem, ao longo de 10.000 anos de existência ainda não se deu conta, muito dificilmente o leitor o faria com a leitura em diagonal (certamente porque deve estar a trabalhar) desta breve resenha histórica da nossa evolução conjunta até aos dias de hoje.

Mas repare bem o leitor:

1) No início, o Homem estava desnudado e feliz.

2) Hoje em dia, não há sítio fora de casa (toka) para onde o leitor (toupeira) se desloque, sem que confirme primeiro se leva:
a) A roupa
b) A carteira
c) As chaves
d) O telemóvel

Experimente sair da toka sem eles, vai ver que não se aguenta muito tempo cá fora, na selva...

PS 1: Não se esqueça, para além da farpela, tem de andar sempre com três-coisas-três. Repita comigo: Três coisas! Três coisas! Três coisas! Vai ver que assim não passa por distraído...

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